ANTONIO FERRO - Mar Alto
prefácio do Autor
1ª edição
Lisboa, 1924
Livraria Portvgalia Editora
19,5 cm x 13,1 cm
s/ capa brochura
208 págs.
Preço: 25.00€ (portes incluídos - normal - pt)
Peça inicialmente representada sem contratempos no Brasil (São Paulo e
Rio de Janeiro) no ano anterior à proibição da encenação lisboeta, a 10
de Julho de 1923, com escândalo e repúdios, por desabrida imoralidade a
que a então popular actriz Lucília Simões dera voz. Ferro conta com
pormenor, num longo Prefácio, o sucedido, tendo acrescentado no fim do
livro não só uma carta de desculpas à referida mulher de teatro, como
também o texto do protesto público a que se associaram, entre outros, os
seguintes homens de letras: Raul Brandão, António Sérgio e Fernando
Pessoa. Resta sublinhar que este manifesto perdeu ab initio o seu
efeito, dado, entretanto, o levantamento da proibição.
Mas nem todos os “homens de letras” foram na época consensuais neste
apoio; Victor Falcão, por exemplo, numa sua colectânea de artigos para a
imprensa periódica, Páginas de Crítica (Casa do Globo Editora, Braga,
1927), exibe uma opinião independente acima de qualquer suspeita:
«[...] Se venho hoje colocar mais algumas letras no cartaz espalhafatoso
de António ferro, é porque estou farto de ouvir dizer asnidades àcêrca
da sua peça Mar alto, sôbre a qual caíu, provadamente, o mau olhado de
todos os ciganos da crítica. O que na mór parte dos jornais se escreveu
sôbre essa peça ingènuamente imoral, onde a perversidade tirita aqui e
àlém, envergonhada, não é justo nem injusto – é ridículo. Rimbombam
ainda os clamores contra o Mar alto, considerado uma obra libertina, com
indecências psicológicas abomináveis, e eu aposto que os protestantes
ficam em palpos de aranha se eu lhes pedir para me indicarem que bitola
usaram para a classificação. Neste país excêntrico, habitado por um povo
que adora o pagode; neste país sem igual, onde a obscenidade é
alimentada nos salões; num país, como o nosso, onde o deboche asfixia
impunemente as energias individuais; num país assim, sem uma élite capaz
de o arrancar do lôdo, ¿quem tem o direito de considerar imoral a peça
de António Ferro? Ninguém, nem mesmo o próprio António Ferro... [...]
¿É a peça de António Ferro uma obra de Arte? Não é. O Mar alto não passa
de uma asneira literária, rufada inconscientemente no tambor do
escândalo. As personagens são inverosímeis e devem ter sido inventadas
num momento de loucura do autor. A trama da peça, feita de côres
berrantes, não resiste à traça da análise do mais obscuro sapateiro de
escada. A acção é uma espécie de foguetes de três respostas, com chuva
de lágrimas luminosas nos intervalos. O desfecho é de uma ingenuïdade
infantil, imprevista e risonha. [...]
A cultura literária de António Ferro é totalmente boulevardière.
D’Annunzio deslumbrou-o, não pela sua formidável potência criadora, não
pela sua assombrosa interpretação do belo e do trágico, não pelo seu
saber tão feiticeiramente diluído na sua prosa principesca, mas pelo
esplendor, pelo inèditismo, pela boa-fortuna dos seus processos de
reclamo. Entre D’Annunzio e Colette – entre um homem de génio e uma
mulher fútil – António Ferro não hesita – segue na peugada de Colette. É
mais fácil e cansa menos. Colette pára muitas vezes no caminho a pôr pó
de arroz na cara e carmim nos lábios. Gabriel D’Annunzio é um touriste
insaciável de beleza; procura-a por toda a parte, quási sem descanso. É
muito difícil acompanhá-lo, porque anda muito depressa. Por isso,
António Ferro prefere seguir Colette, que dá passos miüdinhos, pára
diante das montras e assobia, de vez-em-quando, para que os transeuntes a
observem com espanto... De resto, António Ferro seguiu o seu caminho –
instintivamente. Não sendo um combativo, não sendo um estudioso, não
sendo mesmo um homem de audácia (porque a sua audácia é tão artificial
como a sua imoralidade), êle só podia ser o que é realmente – uma pessoa
de bom-humor, pachorrenta e teimosa, que faz paciências com as
palavras, como os vèlhotes, aos serões, as fazem com as cartas de
jogar... [...]»
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